A oxigenoterapia hiperbárica é caracterizada pela oferta de oxigênio terapêutico com um grau de pureza próximo de 100% no interior de uma câmara hiperbárica, em condições de pressão superiores a pressão atmosférica.
Os benefícios da OHB incluem: a redução do edema local, a diminuição da adesão leucocitária, a inibição da peroxidação lipídica, o aumento dos mecanismos de atividade antibacteriana, o estimulo da proliferação de fibroblastos, a determinação de uma neovascularização, inclusive, o fenômeno de angiogênese, a inibição da bactéria de predomínio anaeróbico, o aumento da oxiemoglobina, o aumento da concentração plasmática de oxigênio e a modulação da resposta inflamatória, dependendo da dose e do tempo de exposição.
A OHB é reservada para recuperação de tecidos em sofrimento, condições clínicas em que sejam o único tratamento, lesões graves e complexas, falha de resposta aos tratamentos habituais, lesões com necessidade de desbridamento cirúrgico ou amputação, piora rápida com risco de óbito, lesões em áreas nobres (face, mãos, pés, períneo, genitália e mamas) e lesões refratárias com recidivas frequentes.
Não está indicada como tratamento para lesões com resposta satisfatória à terapêutica habitual e lesões (sequelas neurológicas e necroses estabelecidas) e infecções (pneumonia e infecção urinária), pois não respondem a OHB (SBMH, 2012, 2013).
A Escala de Gravidade para Avaliação e para Tratamento com OHB bem como as indicações para tratamento hiperbárico são baseadas nas indicações previstas na resolução 1.457/95 do C.F.M., na escala de gravidade da USP, critérios clínicos e aspectos individuais de cada paciente avalizado pelo médico hiperbarista (SBMH, 2012 – 2013), Tabelas 1 e 2.
Tabela 1-Classificação de gravidade da Universidade de São Paulo. Escala “USP” de gravidade e avaliação para tratamento com OHB*
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ITENS |
PONTOS |
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1ponto |
|
2 pontos |
|
3 pontos |
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| Idade |
< 25 anos |
26 a 50 anos |
> 51 anos |
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| Tabagismo |
Leve / moderado |
Intenso |
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| Diabetes |
Sim |
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| Hipertensão arterial sistêmica |
Sim |
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| Queimadura |
< 30% |
> 30% |
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| Osteomielite |
Sim |
c/ exposição óssea |
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| Toxemia |
Moderada |
Intensa |
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| Choque |
Estabilizado |
Instável |
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| Infecção / secreção |
Pouca |
Moderada |
Acentuada |
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| > Diâmetro DA > lesão |
<5 cm |
5 a10 cm |
>10 cm |
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| Crepitação subcutânea |
<2 cm |
2 a6 cm |
>6 cm |
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| Celulite |
<5 cm |
5 a10 cm |
>10 cm |
|||
| Insuficiência arterial aguda |
Sim |
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| Insuficiência arterial crônica |
Sim |
|||||
| Lesão aguda |
Sim |
|||||
| Lesão crônica |
Sim |
|||||
| Alteração linfática |
Sim |
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| Amputação / Desbridamento |
Em risco |
Planejada |
Realizada |
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| Dreno de tórax |
Sim |
|||||
| Ventilação mecânica |
Sim |
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| Períneo / mama / face |
Sim |
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Classificação em 4 grupos ( I a IV) pela somatória dos pontos:G I: < 10 pontos, G II: 11 a 20 pontos, G III: 21 a 30 pontos e, G IV: > 31 pontos.
Mortalidade de acordo com os grupos:G I = 1,2%, G II = 7%, G III = 30%e,G IV = 66%(p < 0.001)*
Fonte:* The “University of São Paulo (USP) Severity Score” for hyperbaric oxygen patients. M. D’Agostino Dias, S.V. Trivellato, J.A. Monteiro, C.H.Esteves, L.M/.Menegazzo, M.R.Sousa, L.A Bodon. Undersea&Hyperbaric Medicine V. 24 Supplement p.35. 1997.
Tabela 2 –Indicações de OHB conforme Resolução CFM 1.457/95 e classificação de gravidade da USP
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Início |
Indicação |
Situações |
Sessões |
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|
EMERGÊNCIA |
Principal |
Imediato |
1. Doença descompressiva | Todos os casos |
2 a 5 (em 95% dos casos) |
| 2. Embolia traumática pelo ar | |||||
| 3. Embolia gasosa | |||||
| 4. Envenenamento por CO ou inalação de fumaça | |||||
| 5. Envenenamento por gás cianídrico / sulfídrico | |||||
|
URGÊNCIA |
Tratamento adjuvante |
Imediato conforme condições clínicas / outros procedimentos |
6. Gangrena gasosa | Todos os casos |
10 a 30 (em 95% dos casos) |
| 7. Síndrome de Fournier | Classif. gravidade da USP III ou IV | ||||
| 8. Infecções necrotizantes de tecidos moles: celulites, fasciites, miosites (incluso sítio cirúrgico) | Classif.gravidade da USP II, III ou IV | ||||
| 9.Isquemias agudas traumáticas: lesão por esmagamento, síndrome compartimental, reimplantação de extremidades amputadas e outras | Classif. gravidade da USP II, III ou IV | ||||
| 10. Vasculites agudas de etiologia alérgica, medicamentosa ou por toxinas biológicas: (aracnídeos, ofídios e insetos) | Em sepse, choque séptico ou insuficiências orgânicas | ||||
| 11. Queimaduras térmicas e elétricas | Acima de 30% de 2º e 3º graus ou queimaduras em áreas nobres | ||||
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ELETIVO |
Tratamento adjuvante |
Início planejado |
12. Lesões refratárias: úlceras de pele, pés diabéticos, escaras de decúbito, úlceras por vasculite autoimune e deiscência de suturas | Após revascularização ou outros procedimentos cirúrgicos se indicados;– osteomielite associada;– perda de enxertos ou retalhos prévios;
– infecção com manifestações sistêmicas |
30 a 60 (em 95% dos casos) |
| 13. Lesões por radiação: radiodermite, osteoradionecrose e lesões actínicas demucosa | Todos os casos | ||||
| 15. Osteomielites | Após limpeza cirúrgica e/ou remoção de material de síntese | ||||
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SITUAÇÕES ESPECIAIS |
Casos selecionados |
Início imediato |
14. Retalhos ou enxertos comprometidos ou de risco | Evolução desfavorável nas primeiras 48 horas, e avaliação a cada 5 sessões |
10 a 40 (em 95% dos casos) |
| 16. Anemia aguda nos casos de impossibilidade de transfusão sanguínea | Associada a suporte respiratório e eritropoetina |
Fonte: SBMH – Diretrizes de segurança, qualidade e ética (2012 – 2013).
As principais contraindicações absolutas da terapia hiperbárica são pneumotórax não tratado, pois pode resultar em pneumotórax hipertensivo e instabilidade hemodinâmica.
Existem algumas contra indicações relativas, a saber, infecções respiratórias de vias aéreas superiores, enfisema com retenção de bióxido de carbono, lesões pulmonares assintomáticas observáveis nas radiografias de tórax, história de cirurgia torácica ou auditiva, febre alta não controlada, gravidez, claustrofobia, convulsões e uso de drogas como a ciclofosfamida e doxorrubicina, pois podem aumentar os efeitos citotóxicos. (OLSZEWER, F. Conceitos de Medicina Hiperbárica de Baixa Pressão.São Paulo: Livraria Santos Editora, 2008.)
As complicações habitualmente observadas no uso da câmara hiperbárica de alta pressão estão relacionados à variação da pressão e/ou toxicidade do oxigênio, que fazem relação com a dose oferecida e com o tempo de exposição. (OLSZEWER, F. Conceitos de Medicina Hiperbárica de Baixa Pressão.São Paulo: Livraria Santos Editora, 2008.)
Os efeitos adversos relacionados com a toxicidade pulmonar são tosse seca, escarros hemoptoicos, dor retroesternal e edema pulmonar. No que concerne à toxidade neurológica são reconhecidas as parestesias e convulsões. Ainda verificam-se complicações importantes como, desconforto e barotrauma auditivos, desconforto nos seios da face e alterações visuais importantes.(KNOBEL, E. Terapia Intensiva: Infectologia e Oxigenoterapia Hiperbárica. Editora Atheneu. São Paulo, 2003.)